J.

Você se lembra de como estava indo bem? De como estava progredindo? Você me dizia o que te incomodava. Se abria. Eu estava lá pra você. Depois dos papos, nós riamos, eu te fazia rir, nos acalmávamos e falávamos de coisas menos tensas. Eu te perguntava se você estava, mesmo que 1%, melhor e você dizia que sim. Eu sentia que sim. Você já me mostrou texto de word criado em momento de desespero e eu tava lá. Li tudo. Você queria que eu lesse. Você disse
que não sumiria sem me avisar e quase sumiu, naquele dia, lembra? Mas só que voltou no outro dia, por mim, achando que eu tava te odiando, mas no fim das contas foi um mal entendido. Eu não tava lá pra te fazer mal, mas pra te ajudar. Te mostrei isso. Te falei várias vezes que apoio 90% das suas decisões e respeito elas, mas o que eu não disse era que eu estava pra tudo, menos pra te deixar desabar mais. Eu não poderia permitir suas atitudes aversivas e autodestrutivas.

Eu estava sendo uma boa lixeira pessoal, num tava? Lixeira pessoal é como chamo aquelas pessoas que estão lá para ouvir nossas merdas, murmúrios, reclamações, tristezas. Essas pessoas, estão com você quando a luz se apaga e quando todo mundo que só vem pra curtir vai embora. É uma coisa boa, mesmo tendo um nome feio. É uma coisa boa. E ajuda. Ajuda um pouco. Às vezes, muito. Você tinha dito que não sumiria sem avisar, mas sumiu, agora, pra valer. E não sei quando você volta. Tenho muito medo.

Eu fechava os olhos bem forte, bem forte, tão, tão forte, em alguns momentos de solidão. Tudo o que eu queria era me teletransportar para perto de você. Será que você ainda seria áspero? Será que me machucaria, enquanto eu estivesse tentando lhe levantar? Por que, mesmo considerando essas opções, e odiando sofrer, ainda sim, se pudesse, eu me teletransportaria pra ai? Não faz muito sentido.

Eu tenho pra mim que você meio que se desgostou de mim, desanimou
comigo. Não faça isso, tá bem? Eu me importo muito contigo. Mesmo. Queria tomar seu problema pra mim e te deixar aí, visitando seus amigos quase de madrugada e disposto pra ver o luar como estava fazendo. Sinto que sei lidar melhor com essas feridas. São muitas feridas, né? Tantas e tantas. E o que são mais algumas pra quem sempre esteve ferrado com elas?

Por favor

Por favor, conversa comigo até meu celular descarregar. Tá perto. Ou até eu dormir. Não tá tão perto assim disso, mas não deve estar longe. Ou até eu morrer. Isso eu não sei quando vai ser. É que eu não queria ser louco pra postar no Facebook alguma coisa enquanto eu tivesse numa crise de ansiedade. É que as pessoas não entendem. É que na minha cabeça as pessoas amam ver as outras dando pitis ou surtando nas redes sociais, na minha cabeça elas zombam de gente com problema ou só mandam se foder. E é tão estranho quando você fica triste sem ninguém ter te deixado triste. Porque as pessoas se machucam tanto e me machucam tanto que nem sei o que é sofrer por nada. Deitado na cama e o coração acelera e eu só quero dormir porque tá tarde e chorar porque viver pesa e desligar a minha mente porque mereço paz. É culpa da ansiedade. E de um texto que acabei de ler. Sabe quem fez o texto? Sabe quem foi o maldito? Eu. Eu fiz o texto e fui fazendo e fazendo, tão cego. Sobre o que é ser um escritor. E quando acabei, li aquilo e era tão verdade que doeu em mim todo. Eu tô sempre cutucando os outros e hoje eu me cutuquei. Foi sem querer. Com as letras tão afiadas, eu me furei. Mas passou, né? Tá tarde, né? As pessoas se machucam mesmo e às vezes é sem querer. Vou me perdoar. Amanhã é cedo em pé. A lua não liga se você tem problemas, ela vai embora todo dia com você morrendo ou não, e se vem o sol.
Tô com muito sono. Acho que desabafar fez bem. Eu num disse que não estava longe de eu ir dormir? E o celular nem descarregou ainda. Não precisa dizer nada, ok? Obrigado por me ouvir, ou me ler, ou me aturar. Vai dormir também. Tá tarde. Boa noite.
Fui.

Fotografia

A gente se descobre aos poucos, devagar, da forma mais inesperada. Começou com fotos de família, eu preferi batê-las, já que odiava estar nelas. “Então bate a foto, é só apertar o botão”, eles diziam e eu batia sem muita opção. Aos poucos fui vendo graça nisso. Me ajoelhava, enquadrava, mandava fazerem poses. Era mesmo só apertar o botão? Se era só isso, por que eu me divertia tanto? Ganhei uma câmera, conheci fotógrafos, modelos, equipamentos, truques, poses. O mundo da fotografia é grande e fascinante. Nunca foi só apertar o botão e bater uma foto, eu estava descobrindo isso. O negócio era fazer genialidades com o simples recurso de pôr no papel o que a gente vê com os olhos. A fotografia é a arte de salvar todo o ambiente, os momentos, as pessoas, os sentimentos e eternizar isso com você. Fotografia é pintar com a luz e o ângulo. Algumas vezes a foto é extravagante e causa um “uau” nas pessoas. Outras vezes só causa calma, paz, felicidade. Mas sempre, sempre a fotografia causa alguma coisa. Não importa do que é a foto em si, mas ela causa emoções, imaginações e lembranças àqueles que a vêem. E eu amo causar coisas nas pessoas. Certo dia, conversando com um grande fotografo, eu soltei uma lamentação: “fui em um lugar tão belo. Era verde, azul, amarelo. Era tudo tão vivo. Eu queria enfiar o céu, a terra, as flores, a água, os insetos, os pássaros, eu queria enfiar aquele vento frio e essa sensação de casa, toda dentro de uma foto. Eu queria que todos sentissem o que eu senti naquela hora, sabe?”. Ele me disse que o desafio é exatamente esse. “Nunca foi só apertar um botão, lembra? A sua missão é enfiar o mundo inteiro na lente da sua câmera, e o botão… O botão é só charme”.

Os nés dos inseguros

Você me ama?

Me ama muito?

Você sabe que eu te amo, né? Porque eu te amo muito.

Por que eu te amo muito?

Por que você me ama?

Você não vai me abandonar, né? Afinal, eu não fiz nada de errado.

Quer dizer, eu não fiz nada de errado, né?

Nós vamos ser para sempre, né?

Quer dizer, pra sempre é muito tempo, mas digo… Vamos ficar juntos por muito tempo, né?

Porque eu e você queremos ficar juntos por muito tempo, né?

Você quer ficar junto comigo por muito tempo?

Você me ama mesmo?

Ok, me desculpa por duvidar tanto?

Prometo que não vou duvidar e questionar mais, tá? Eu sei que você merece confiança.

Mas antes

Você me ama mesmo? Só pra ter certeza.

Trecho 2

Essa baixa autoestima é refletida no amor. Gente bonita quando termina um relacionamento só sofre pelo costume de conviver com a alguém. Gente feia sofre por isso e porque sente que nunca poderá ser amada, tocada e notada outra vez. Porque bate um terror. Um medo da rejeição eterna. Um medo de ser feio e invisível pra sempre.

Ficou

Sei quem eu fui. Eu não era insuportável. Mas era inamável. Nem sabia que essa palavra existia até o corretor não marcar de vermelho. Eu era assim, incapaz de ser amado por alguém com quem convivia diariamente. Mostrava meus lados e as pessoas fugiam, sumiam. Mas ele ficou. Impregnou-se na minha vida como um perfume dos bons. Me mostrou que eu também merecia ser amado, assim como todo mundo. E aí, eu fui aprendendo a amar e a me deixar ser amado, aos poucos.